29 mar, 2015

Feminismo: a luta pela igualdade dos gêneros

Semana passada tive uma mini discussão no Facebook, com um conhecido (homem), sobre o que é feminismo e o que é ser feminista, por conta da nova linha de esmaltes da Risqué (Homens que Amamos), cuja leva nomes masculinos e ideias “românticas”, como “André fez o jantar”. Eu, como publicitária formada e feminista declarada, acho a linha de extremo mau gosto.

Mas o ponto não é esse.

A pauta relevante deste assunto aqui é que o conhecido postou o link do blog Lugar de Mulher, em sua página pessoal no Facebook, com os dizeres “É só um esmalte! Jesus Cristo, onde esse feminismo vai parar? Quando elas se tornarem homens?”

Como uma pessoa que detesta barracos, enviei à ele o link do artigo do Carta Capital, Feminismo para leigos. Ele argumentou, dizendo que algumas “pseudo-feministas” postam esse tipo de conteúdo, alegando ser feminismo, mas não é, arranjando briga para tudo. Eu contra-argumentei, dizendo que é feminismo, sim, a luta pelos direitos iguais.

Ele ainda disse que vê a coisa toda de uma forma mais inocente, que se os caras fizeram o que fizeram (dizeres no esmalte: André fez o jantar, Guto fez o pedido, Fê mandou mensagem etc) para deixar ambos felizes.

Eu discordo.

Reprodução: instagram.com/beyonce

 

Se o André fez o jantar é porque não fez mais que a obrigação dele. Ou a obrigação era da namorada dele, só por ela ser mulher? Zeca chamou a menina pra sair, que ótimo. Eu nunca fui mulher de ficar esperando um homem me chamar pra sair. Se o cara com quem estou saindo tem a autonomia suficiente de sair quando ele quiser, eu também tenho.

Quem faz parte de alguma minoria deveria entender, ainda mais, que os direitos são iguais para todos e não achar bonitinho porque simplesmente fez o jantar para a namorada, porque ela não podia naquele dia. Até quando nós, mulheres, teremos que agradecer quando o pai de nossos filhos for trocar as fraldas deles (seus próprios filhos)? Até quando teremos que agradecer porque eles tiraram o lixo (que produzimos na coletividade)? Até quando teremos que agradecer pelo fato de eles terem limpado a casa (que eles também moram)?

Eu sou parte de duas minorias: sou negra e mulher. Eu sei o que é ser oprimida em lugares que eu até finjo que não está acontecendo. Eu sei o que é ser encoxada no metrô, o que é alguém mexer comigo na rua e ainda escutar da sociedade “mas homem é assim mesmo, não sabe controlar seus instintos sexuais” ou até “mexeram com você porque está de saia. É assim mesmo”. Eu sei o que é pagar a conta do jantar com meu acompanhante e o garçom agradecer à ele, e não à mim, sendo que eu trabalhei o mês inteiro para poder ter dinheiro na MINHA conta.

Não há lado inocente em oprimir minorias. O feminismo nada mais é que a “luta por direitos iguais”, diferentemente do machismo, que consiste somente em oprimir o sexo feminino. As pessoas feministas não são necessariamente mulheres, mas sim todos que acreditam na igualdade entre os gêneros.

Separei algumas citações do discurso sobre feminismo no TEDx Talks, da incrível autora nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie:

“Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em ser ‘benquistos’. Se, por um lado, perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, por outro, elogiamos ou perdoamos os meninos pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos.”  Aqui, aqui, aqui e aqui alguns exemplos que tomei a liberdade de citar.

“O homem que se sente intimidado por mim é exatamente o tipo de homem por quem não me interesso. (…) Já que pertenço ao sexo feminino, espera-se que almeje me casar. Espera-se que faça minhas escolhas levando em conta que o casamento é a coisa mais importante do mundo. O casamento pode ser bom, uma fonte de felicidade, amor e apoio mútuo. Mas por que ensinamos as meninas a aspirar ao casamento, mas não fazemos o mesmo com os meninos?”

“Algumas pessoas me perguntam: ‘Por que usar a palavra [feminista]? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?’ Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas escolher uma expressão vaga como ‘direitos humanos’ é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. Seria uma forma de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo do século. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino.”

“Os homens não pensam na questão do gênero, nem notam que ela existe. (…) Dizem que as coisas eram ruins no passado, mas que agora está tudo bem. Muitos não fazem nada para mudar a situação das coisas”

“Feminista é o homem ou a mulher que diz ‘Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar’.”.

O discurso está disponível na íntegra no canal do TEDx Talks, com legendas embutidas e também foi transcrito para livro que, na Saraiva, na Amazon e na loja do Kobo, o eBook, editado pela Companhia das Letras, está de graça.

Meu Kobo <3

 

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