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09 jun, 2015

Tercinha da resenha: “Americanah”

Tercinha da resenhaaaaa!!!  

Hoje é a primeira resenha de livro que farei. Espero que gostem, pois nunca fiz isso antes – a não ser para um extinto blog meu, que nem lembro mais.

Americanah, edição em inglês Americanah, Companhia das Letras

Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora:
 Random House | Companhia das Letras
Ano de publicação: 2013 | 2014
Número de páginas: 470 | 516
Compre aqui: Físico original | Digital original | Físico nacional | Digital nacional
Adicione no Skoob: Original | Nacional

Sinopse da Companhia das Letras

Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra.
Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência.
Principal autora nigeriana de sua geração e uma das mais destacadas da cena literária internacional, Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. Bem-humorado, sagaz e implacável, Americanah é, além de seu romance mais arrebatador, um épico contemporâneo.

“Em parte história de amor, em parte crítica social, um dos melhores romances que você lerá no ano.” – Los Angeles Times
“Magistral… Uma história de amor épica…” – O, The Oprah Magazine

  • Vencedor do National Book Critics Circle Award;
  • Eleito um dos 10 melhores livros do ano pela NYT Book Review;
  • Direitos para cinema comprados por Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Doze anos de escravidão.

Já falei do discurso sobre o feminismo no TEDxTalks da Chimamanda aqui. É só clicar!

Minha visão (Atenção: pode conter spoilers)

Ifemelu vivia em Lagos, na Nigéria, com seus pais em um apartamento alugado, cujo sempre ficava sem energia por conta da recessão que a região estava sofrendo na época. A vida de Ifemelu de repente vira do avesso: seu pai perde o emprego de anos, sua mãe tem de sustentar a casa com o salário de professora e sua tia médica perde o namorado num conflito militar e precisa sumir com seu primo recém-nascido.

Após conhecer Obinze, o amor de sua vida, e viver no meio de uma greve eterna em sua universidade, Ifemelu se sente confusa: se deve aproveitar a chance de morar nos EUA com sua tia, Uju, ou ficar em sua terra tentando uma melhora de vida para sua família. Por fim, ela decide ir embora e ajudar a cuidar de seu primo, Dike, enquanto as aulas não começam e ela não consegue um emprego, observando de perto a crise sentimental e psicológica de sua tia.

Ifemelu logo cria um blog (oi!) para relatar os causos de uma mulher negra vinda de um país da África. Ela se sente conflituosa por não poder ser quem ela realmente é para viver socialmente – na maioria das vezes, precisa fingir ter sotaque estadunidense, sendo seu sotaque igbu nativo, e sente a necessidade de alisar o cabelo com relaxamentos nocivos à seu coro cabeludo.

Ifemelu acaba deixando de lado seu relacionamento a longa distância (EUA – Nigéria) com Obinze por algo que ela faz por dinheiro, durante seu claro desespero por não conseguir um emprego, mesmo com o cartão-cidadão de outra pessoa (prática comum entre pessoas não-estadunidenses). Ela não responde mais a suas ligações, mensagens, e-mails e nem mesmo correspondências.

O romance é primeiramente narrado no presente, em que Ifemelu está num salão de cabeleireiros fazendo tranças enraizadas para voltar para casa, na Nigéria. O restante da narrativa envolve totalmente o leitor em torno do presente e do passado, que a fez decidir por se mudar e depois voltar.

[Edit] Achei importante ler em inglês, pois há vícios de linguagem que imaginei não serem passíveis de tradução para o português. São vícios de linguagem estadunidenses, nigerianos, ingleses, enfim. [/Edit]

Achei “Americanah” um dos melhores livros que já li, em construção narrativa e em diversidade cultural, pois ele mostra que não é de pobreza que os países da África são construídos. O romance é muito bem contado, com flashbacks e situações no presente.

Porém (ah, sempre tem um)…

Achei que até 80% do livro tudo fluiu muito bem. No fim dele, senti falta de explorar os personagens que já haviam sido apresentados durante a história. Eu sei que o livro deveria se passar em torno da história de Ifemelu somente, porém os outros foram tão bem descritos durante o romance que eu senti falta de um desfecho para eles, ou, pelo menos, citá-los.

Chimamanda escreve muito bem, mas eu senti falta de uma conclusão mais bem escrita. Apesar de o livro ter 470 páginas (em inglês), não me importaria se ele tivesse quase 600 para dar um final bom o suficiente para cada um dos personagens. A impressão que tive, é que o fim do livro teve de ser escrito às pressas.

Chimamanda-Ngozi-Adichie-Americanah-National-Books-Prize-BellaNaija

Chimamanda Ngozi Adichie

Nota:

Trilha sonora

Sempre que leio um livro, escolho um álbum para me acompanhar na trilha sonora, porque me distraio com playlists muito variadas. Neste, escolhi o álbum curtinho, porém muito bom da Solange Knowles, “True”. O clipe de “Losing You” foi gravado inteiramente em Cape Town, na África. Inclusive o álbum tem várias referências do país. ♥

Outra trilha sonora que achei bem propícia para o livro bem no finzinho dele, onde Ifemelu diz “I’m a grown woman!” é essa música maravilhosa, com inserções africanas, da master diva Beyoncé.

É isso! Espero que tenham gostado.

Digam aqui nos comentários o que acharam ou lá na página do Outtamind. ♥~

E não esqueçam de responder à pesquisa de público!

29 mar, 2015

Feminismo: a luta pela igualdade dos gêneros

Semana passada tive uma mini discussão no Facebook, com um conhecido (homem), sobre o que é feminismo e o que é ser feminista, por conta da nova linha de esmaltes da Risqué (Homens que Amamos), cuja leva nomes masculinos e ideias “românticas”, como “André fez o jantar”. Eu, como publicitária formada e feminista declarada, acho a linha de extremo mau gosto.

Mas o ponto não é esse.

A pauta relevante deste assunto aqui é que o conhecido postou o link do blog Lugar de Mulher, em sua página pessoal no Facebook, com os dizeres “É só um esmalte! Jesus Cristo, onde esse feminismo vai parar? Quando elas se tornarem homens?”

Como uma pessoa que detesta barracos, enviei à ele o link do artigo do Carta Capital, Feminismo para leigos. Ele argumentou, dizendo que algumas “pseudo-feministas” postam esse tipo de conteúdo, alegando ser feminismo, mas não é, arranjando briga para tudo. Eu contra-argumentei, dizendo que é feminismo, sim, a luta pelos direitos iguais.

Ele ainda disse que vê a coisa toda de uma forma mais inocente, que se os caras fizeram o que fizeram (dizeres no esmalte: André fez o jantar, Guto fez o pedido, Fê mandou mensagem etc) para deixar ambos felizes.

Eu discordo.

Reprodução: instagram.com/beyonce

 

Se o André fez o jantar é porque não fez mais que a obrigação dele. Ou a obrigação era da namorada dele, só por ela ser mulher? Zeca chamou a menina pra sair, que ótimo. Eu nunca fui mulher de ficar esperando um homem me chamar pra sair. Se o cara com quem estou saindo tem a autonomia suficiente de sair quando ele quiser, eu também tenho.

Quem faz parte de alguma minoria deveria entender, ainda mais, que os direitos são iguais para todos e não achar bonitinho porque simplesmente fez o jantar para a namorada, porque ela não podia naquele dia. Até quando nós, mulheres, teremos que agradecer quando o pai de nossos filhos for trocar as fraldas deles (seus próprios filhos)? Até quando teremos que agradecer porque eles tiraram o lixo (que produzimos na coletividade)? Até quando teremos que agradecer pelo fato de eles terem limpado a casa (que eles também moram)?

Eu sou parte de duas minorias: sou negra e mulher. Eu sei o que é ser oprimida em lugares que eu até finjo que não está acontecendo. Eu sei o que é ser encoxada no metrô, o que é alguém mexer comigo na rua e ainda escutar da sociedade “mas homem é assim mesmo, não sabe controlar seus instintos sexuais” ou até “mexeram com você porque está de saia. É assim mesmo”. Eu sei o que é pagar a conta do jantar com meu acompanhante e o garçom agradecer à ele, e não à mim, sendo que eu trabalhei o mês inteiro para poder ter dinheiro na MINHA conta.

Não há lado inocente em oprimir minorias. O feminismo nada mais é que a “luta por direitos iguais”, diferentemente do machismo, que consiste somente em oprimir o sexo feminino. As pessoas feministas não são necessariamente mulheres, mas sim todos que acreditam na igualdade entre os gêneros.

Separei algumas citações do discurso sobre feminismo no TEDx Talks, da incrível autora nigeriana, Chimamanda Ngozi Adichie:

“Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em ser ‘benquistos’. Se, por um lado, perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, por outro, elogiamos ou perdoamos os meninos pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos.”  Aqui, aqui, aqui e aqui alguns exemplos que tomei a liberdade de citar.

“O homem que se sente intimidado por mim é exatamente o tipo de homem por quem não me interesso. (…) Já que pertenço ao sexo feminino, espera-se que almeje me casar. Espera-se que faça minhas escolhas levando em conta que o casamento é a coisa mais importante do mundo. O casamento pode ser bom, uma fonte de felicidade, amor e apoio mútuo. Mas por que ensinamos as meninas a aspirar ao casamento, mas não fazemos o mesmo com os meninos?”

“Algumas pessoas me perguntam: ‘Por que usar a palavra [feminista]? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?’ Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas escolher uma expressão vaga como ‘direitos humanos’ é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. Seria uma forma de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo do século. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino.”

“Os homens não pensam na questão do gênero, nem notam que ela existe. (…) Dizem que as coisas eram ruins no passado, mas que agora está tudo bem. Muitos não fazem nada para mudar a situação das coisas”

“Feminista é o homem ou a mulher que diz ‘Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar’.”.

O discurso está disponível na íntegra no canal do TEDx Talks, com legendas embutidas e também foi transcrito para livro que, na Saraiva, na Amazon e na loja do Kobo, o eBook, editado pela Companhia das Letras, está de graça.

Meu Kobo <3

 

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